PASTORAL

A FOME NA CIDADE

Todo o seu povo anda gemendo e à procura de pão; deram eles as suas
coisas mais estimadas a troco de mantimento para restaurar as forças … (Lm 1.11).

O profeta Jeremias escreveu essas palavras em um momento de sofrimento profundo para o povo de Jerusalém. Em meio à fome física, o povo sacrificava o que tinha de mais precioso para sobreviver. No entanto, essa realidade da antiga Jerusalém vai além da falta de pão; ela fala também de uma fome espiritual, um vazio que transcende o físico e reflete a perda de comunhão com Deus.

Francis Schaeffer (1912-1984) foi um ex-agnóstico que se tornou pastor presbiteriano. Ele falou desse vazio existencial em suas obras. Ele defendeu que a Bíblia não é apenas um livro de histórias ou de conselhos morais, mas a fonte da única resposta verdadeira para o propósito de vida, a moralidade e os valores eternos. Schaeffer argumentava que vivemos em um mundo pós-cristão, onde as respostas oferecidas pela fé são frequentemente negligenciadas. Como no tempo de Jeremias, vivemos em uma cultura que conheceu a Deus, mas, muitas vezes, optou por ignorá-lo.

No livro “Morte na Cidade”, Schaeffer sugere que o livro de Jeremias e o de Lamentações oferecem uma visão profunda de como Deus responde a uma cultura que se afastou dele. A cidade de Jerusalém, sob o peso do julgamento, revelava as consequências de viver à parte de Deus: uma fome que ia além do físico, atingindo a alma.

Em nossa sociedade, muitas vezes buscamos saciar essa carência em fontes que apenas intensificam nosso vazio. Uns têm sede de respostas para as questões mais profundas, mas buscam respostas em filosofias que não os satisfazem. Outros estão famintos de beleza, e se perdem na superficialidade de estéticas que não trazem paz. Outros procuram desesperadamente por valores morais sólidos, em um mundo que relativiza o certo e o errado. E há, ainda, a fome de amor, mas muitos tentam preencher essa fome com relacionamentos vazios, desprovidos de compromisso e de humanidade. Relações sexuais separadas de amor genuíno e bíblico não suprem essa necessidade, mas apenas aprofundam o grito de uma geração que, no fundo, clama: “Eu estou com fome.”

Diante de tudo isso, a igreja precisa oferecer o único alimento capaz de saciar verdadeiramente a alma. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim jamais terá fome” (Jo 6.35). Não podemos reter esse pão vivo, que é Cristo, o único que pode satisfazer plenamente as fomes do coração humano.

Proclamemos essa verdade em nossa cidade, com ousadia e amor. Que o pão da vida, que desceu do céu, seja compartilhado, alimentando aqueles que estão famintos por respostas, beleza, justiça e amor verdadeiro. Não é tempo de escondermos o pão divino, mas de levá-lo às multidões que ainda clamam por esperança.

Rev. Jessé Vinícius